sexta-feira, dezembro 29, 2006

Promessas de fim de ano

Quem é que nunca fez uma promessa de final de ano? Dessas quantas foram cumpridas?

Podemos dizer que se não são todas as pessoas, pelo menos a grande maioria. Se você é uma delas e uma de suas promessas é largar o vício cuidado. Algo que aprendi nesses anos de estudo e tratamento é que nunca se pode prometer algo que não possa ser cumprido. Me explico, não quero dizer que prometer largar o vício é uma promessa vazia e impossível, longe disso, acredito ser muito válido, qualquer motivo é um bom motivo e fim de ano, vida nova pode ser uma excelente razão e motivação para alguém que está com este objetivo.

Minha preocupação se dá na maneira como essas coisas são prometidas. Isto por si só não basta, este problema exige da pessoa um algo a mais, um comprometimento muito sério. Já ouvi algumas vezes isso e levo isso quase como um lema, “Quer parar, feche a boca”. É uma frase cheia de preconceitos e minimiza o problema do abuso e dependência de substâncias, porém é verdadeira. O que ninguém diz é que esta é a parte mais fácil do problema. Fazendo um comparativo simples, mas aproximado, se a solução dos problemas das pessoas que querem emagrecer fosse fechar a boca, estava fácil. Mas se é tão fácil assim, porque ninguém ou quase ninguém faz??

Ai é que está o “pulo do gato”, ninguém faz isso, pois existe todo o resto, “fechar a boca” é muito mais do que um simples gesto. A pessoa tem que alterar uma série de comportamentos e maneirismos adquiridos em toda uma vida. Vamos aproximar um pouco mais a conversa de algo que nos cerca cotidianamente e que passa despercebido pela maioria de nós. Quantos de vocês fazem pelo menos 15 minutos de exercício diários, só para pelo menos não ser um sedentário? Quantos se preocupam em digitar corretamente para não pegar uma “LER” (lesão por esforços repetitivos)? Quem se preocupa em sentar direito na cadeira para não lesionar as costas depois de velho? Pois bem, são cuidados muito simples que não envolvem grandes acrobacias para conseguir, mas ninguém faz. Pior, quando conversamos com algum amigo, ou quando alguém mais próximo nos avisa ou nos exige alguma atitude, nos sentimos culpados e tristes, e o que fazemos para compensar, uma promessa “dessa vez eu vou mudar”. Mas com o tempo nos esquecemos do problema, até que algum evento ocorra que nos faça lembrar dele de novo, infelizmente, às vezes, o evento acaba por ser o problema em si. Porque então não resolvemos quando nos damos conta?

Não basta saber que faz mal, saber é só algo que nos orienta. Um usuário em um estágio de abuso ou dependência já entendeu que o uso está lhe fazendo mal, ninguém é burro, muito menos insensível. Com certeza uma pessoa neste estágio deve ter ouvido um monte de gente falando que faz mal, até ele mesmo. Já deve ter passado por um monte de situações das mais desconfortáveis e terríveis e deve ter prometido uma porção de vezes descontinuar com o uso. Mas se esta pessoa ainda não conseguiu parar imaginem o fardo de culpa que ela deve estar carregando. Algo que deve se aproximar de “Porque eu quando tinha 20 ou 30 anos não comecei a malhar, ou a sentar direito na cadeira?!”.

Ainda bem que para tudo tem conserto, para conseguir cumprir essas promessas de fim de ano devemos mudar nossas atitudes. Estabelecer um objetivo é fácil, cumprir o objetivo é difícil exige organização, exige ajuda especializada, exige um método, exige cumprir pequenos objetivos diários. Não tente “fechar a boca” tente evitar as coisas que te deixam abri-la. Um atleta de maratona não nasceu correndo, ele se preparou, começou andando, depois correndo cada dia um pouco a mais, até que conseguiu correr todo o percurso. Não adianta nada fazer uma pessoa que nunca fez exercício algum achar que pode simplesmente sair correndo que vai conseguir correr a São Silvestre inteira. Ainda por cima em primeiro lugar e sem amarrar os sapatos, ela vai tropeçar na primeira passada e dizer que é impossível, vai ficar chateada e acreditar que não consegue fazer aquilo, ou que foi sorte da outra pessoa ter nascido com aquelas capacidades. Mentira, qualquer um pode ser um maratonista se assim desejar. O mesmo acontece com um usuário de drogas, parar de usar drogas exige um cuidado semelhante, cada dia faz um pouquinho.

Seguem algumas dicas simples de fim de ano que podem ajudar:
Se você é usuário de álcool e vai a uma festa de fim de ano, leve alguém de confiança que vai te ajudar a não usar naquela noite, pode ser até um chato. Se você conseguir nem vá à festa, tenho certeza que no dia seguinte você vai se sentir muito melhor.
Se você é usuário de cocaína, cuidado com festas de fim de ano, beber pode te fragilizar e dificultar evitar o uso.
Cuidado com as despedidas (do uso) de fim de ano, quantas vezes você já se despediu da droga: “Essa é a última, depois eu não uso mais”. Para de se enganar, não existe isso, acaba sendo mais um motivo para usar um monte e de novo te levar para a culpa. Quanto mais se usa mais se quer usar, para de fazer despedidas.

Fechar a boca é fácil, não se esqueça de todo o resto!

Desejo a todos um ano novo cheio de esperança e conquistas